Por que é tão difícil se afastar de quem nos machuca?

Tem gente que acha que é só querer. Que basta decidir ir embora e pronto. Que se você ainda está ali, é porque gosta de sofrer ou não tem amor próprio. Mas a verdade é bem mais complexa — e mais humana também.

Sair de uma relação que te machuca não é simples. Especialmente quando você acredita que aquele amor é tudo o que tem. Quando o coração ainda espera por mudança, mesmo depois de tantos sinais claros de que as coisas não vão mudar.

A dependência emocional não chega gritando. Ela começa aos poucos, se disfarça de paixão, de entrega, de intensidade. Você cede aqui, silencia ali, se molda um pouco mais pra caber na vida do outro. Até perceber que deixou de caber na sua própria.

E mesmo percebendo tudo isso, você continua lá.

Porque ele também sabe ser bom quando quer. Porque há momentos em que ele te olha de um jeito que te faz acreditar que talvez, só talvez, o problema seja você. E você se esforça mais um pouco. Se culpa. Se questiona. Se encolhe.

Mas, por dentro, algo vai morrendo devagar.

Você começa a se perder de si mesma. Sente que já não sabe o que gosta, o que quer, o que merece. A autoestima vai ficando tão fragilizada que você passa a acreditar que não consegue mais viver sozinha, que não vai dar conta, que ninguém mais vai te amar.

E aí você se prende. Não por escolha, mas por medo. Não por amor, mas por falta dele.

Dependência emocional é isso: o medo de perder o pouco que se tem, mesmo que esse pouco esteja te destruindo. É confundir apego com amor. É viver entre migalhas emocionais e crises de ansiedade. É estar em um lugar que dói, mas que parece mais suportável do que o vazio que viria depois da ruptura.

Mas eu preciso te dizer uma coisa com todo o carinho do mundo: esse vazio que você teme não é pior do que a dor de continuar. Porque nele, você vai finalmente ter espaço pra se reencontrar. Pra se ouvir. Pra se curar.

Você não nasceu pra se contentar com pouco. Nem pra implorar por amor. Você nasceu inteira — e merece ser tratada assim.

Talvez hoje você ainda não consiga ir embora. Tudo bem. Não se culpe por isso. Mas comece, aos poucos, a voltar pra você. Um passo de cada vez. Uma escolha por dia. Um silêncio que protege. Um limite que respeita. Uma lembrança de quem você era antes de se perder nessa história.

E quando a dor de ficar for maior que o medo de ir, você vai saber: chegou a hora.

Não porque alguém te salvou. Mas porque você finalmente decidiu se salvar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *